Seguidores

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O natal de Poirot

Autora: Agatha Christie
Data: 1939
Editora: Nova Fronteira
Pgs.: 223
Gênero: policial
Assunto: assassinato em família

Todas as edições de “O natal de Poirot” trazem o seguinte trecho de MacBeth no prólogo: “Quem jamais poderia imaginar que aquele velho guardasse tanto sangue dentro de si?”. Isso porque Agatha Mary Clarissa Muller dedicou este livro a seu cunhado, James, que queria ver um romance cheio de sangue, e com uma morte bastante violenta, já que Agatha normalmente matava seus personagens com veneno, uma bala certeira ou algo bem civilizado, como boa inglesa. Enfim, seu cunhado queria um romance que não fosse “anêmico”.
A jovem Pilar aparece no trem rumo à Inglaterra, enquanto a família Lee confabula da casa do velho patriarca, Simeon. Na véspera de natal, com toda a família reunida na casa, Simeon é degolado em seu próprio quarto, encontrado revirado, bagunçado e com sangue para cada canto que se olhasse. O superintendente Sugden conta com a ajuda do coronel Johnson e de Hercule Poirot para resolver o crime. Mais uma vez, num caso onde os suspeitos pareciam não ter motivo nenhum para assassinar o velho, Poirot usa a analise psicológica e todas as informações que pode retirar da família, e encontra o assassino onde menos se imaginaria.

Os miseráveis

Autor: Victor Hugo
Data: 1862
Editora: Hemus (Brasil)
Pgs.: 515
Gênero: ficção
Assunto: fuga da policia

Mas o que foi nunca mais será... e a vida de Jean Valjean passou e ele nem percebeu.
Não, Os Miseráveis não narra uma fuga policial tosca como as de Dan Brown. Os Miseráveis é simplesmente o melhor livro da história da humanidade. Atrevo-me a dizer isso e peço perdão aos especialistas que discordam. Eu sou apenas uma moça de 22 anos que calcula ter lido 120 ou 130 livros na sua vida miserável, mas, aos 16 anos, fui tocada por essa obra, e a cicatriz deixada em meu coração permanece até hoje. Reconheço, não falo de Os Miseráveis apenas com olhos críticos, falo com o coração na mão. Chorei ao terminar de lê-lo. É o livro mais triste e fascinante que já tive em minhas mãos. Jean Valjean carrega consigo o maior veneno que existe na face da Terra, e que vive em todos nós; que, em doses homeopáticas, é vacina e soro para nossa vida, mas em doses em caixa alta nos envenena lentamente, nos corrói a vida e a paz de espírito, até a morte dolorosa: o medo.
O bispo Myriel é um homem bondoso e querido na sua paróquia, e recebe em sua casa Jean Valjean, que lhe agradece a hospitalidade lhe furtando certos objetos de prata. Jean foge. É preso. Sua vida dá muitas voltas. Muito tempo se passa, e as vidas de Jean e Fantine se cruzam. Cossete, a filha de Fantine, é adotada por Jean. Ao mesmo tempo, Jean reencontra o policial Javert, orgulhoso e perfeccionista, que anseia por fazer Jean pagar por coisas que ainda ficaram pendentes.
Confesso que é difícil para mim falar de Os Miseráveis. Não só porque faz 6 anos que o li, mas principalmente porque, como já disse, esse livro causa uma profunda comoção em mim. Tenho-o em minhas mãos neste momento, depois de 6 anos, e sinto borboletas no estomago. A história de Jean emociona. Ele era um miserável porque passou a vida fugindo de si mesmo, depois de Javert, e amava Cossete com todas as forças que lhe restavam. Quando achou que poderia usufruir sua vida com sua filha que tanto amava, seus caminhos se cortaram. Victor Hugo costura a vida de Jean paralelo à história da França, desde Napoleão até a época de publicação do livro, e mesmo assim o desenvolvimento e as minúcias dos personagens são irretocáveis.
Após ler “Crime e Castigo”, percebo semelhanças incríveis em duas historias aparentemente opostas. No entanto, quem lê com atenção as obras francesa e russa percebe que essas semelhanças são berrantes. Jean Valjean, isso eu lembro bem, vive com medo de tudo, principalmente da solidão. Seu crime é diferente, mas é um crime. Pagou por ele, mas sua vida pregressa e o orgulho de um policial o impedem de ser feliz. Acima de tudo, apenas uma coisa tem o poder de salvar a alma miserável de Jean: o amor.
Victor Hugo é um mestre do drama. Os Miseráveis é dotado de uma linguagem clara, precisa e profunda. As divagações de Jean, Fantine, do próprio bispo Myriel são extremamente realistas, como se pudéssemos ver dentro da mente dos personagens. É um livro mais emocional do que racional, que tem o poder de tocar até as pessoas mais duras de coração. Mesmo aqui, na América do século XXI, pode-se ler Os Miseráveis e pensar: será que a minha vida também está passando sem eu perceber? Será que também estou fugindo, até mesmo de mim? Será que, mesmo com todo dinheiro do mundo, como Valjean, eu também sou um miserável?
Eu cheguei à conclusão de que eu sou uma miserável. Miserável de espírito, como Jean. Talvez por isso essa obra tenha me tocado tão profundamente, até hoje. Tenho-a em minhas mãos, e me emociono. Mas é inquestionável o talento e a primazia da obra de Victor Hugo. Faltam-me palavras. É mais do que simplesmente contar o drama de Jean, Fantine e Cossete. É amolecer nosso coração, perceber como a vida é terrível, mas é bela. Os Miseráveis é literatura por excelência. A história de Jean nos mostra que a noite, por mais que fujamos, sempre chega, assim que foge o dia.